Bug do milênio. Fim do calendário Maia. O ataque às Torres Gêmeas, a rota estranha de um meteoro, tempestade solar. Aquecimento global, pandemia global, o fortalecimento do fascismo, endemia, possível terceira guerra mundial. Eu fui, eu tava.
E em todas essas situações eu não podia fazer nada além de acompanhar o fim do mundo pela tela da TV ou pelo feed do Twitter. Na pior crise humanitária da nossa geração, a orientação era ficar trancado dentro de casa. Tem pior filme de apocalipse que esse?
Seria o suficiente, mas só quem é brasileiro sabe. Além de todo o trauma pós-guerra por conta da pandemia, temos um excrementíssimo presidente que não curte esse negócio de democracia, e que acredita que pobre só é útil com título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso.
Não sou eu quem está dizendo que o Bolsonaro é fascista, é a história. Nessa entrevista ao Roda Viva, Steven Levitsky, escritor de Como as democracias morrem, explica de forma didática os riscos que o Brasil e a América Latina estão correndo com essas eleições, mas se eu pudesse pedir para você assistir apenas a um trecho, seria esse aqui:
Não é mais questão de “escolher entre o menos pior”. Pela primeira vez na história da redemocratização do Brasil o povo vai à urna para defender nosso direito de continuar votando. E para muitos, de continuar vivendo, comendo, trabalhando. Quase 30% da população vive com menos de R$500 mensais, num país em que a cesta básica custa em média R$660 e o gás de cozinha alcançou o maior valor do século.
A guerra não vai começar SE algo acontecer, a guerra já está acontecendo, matou quase 700 mil pessoas e todo dia está matando indígena, negro, e quem mais eles conseguirem atingir.
Votem com consciência para o executivo e o legislativo, procurem candidatos que fazem parte e se preocupam com minorias. Não sabe por onde começar? Esse fio traz ideias e explicações importantes.
Com tantos traumas diários, essa exaustão cívica, ter perdido os meus sem nem direito à despedida, não podemos apenas vencer uma eleição, precisamos escurraçar esse homem do Planalto com tanta força que não haverá dúvidas que o lugar dele é o inferno que o pariu. Não é voto útil, é voto de sobrevivência. E se eu me tranquei em casa por dois anos e meio para sobreviver, posso sim apertar o 13 numa urna (eletrônica!) para exorcizar o país. Pelos que se foram e por quem ainda está.
Faz um tempo que não escrevo porque existir exige colheres demais, mas nesse período off mudei algumas coisas por aqui!
Primeiro, essa newsletter agora se chama Incidente em Colares, graças às boas ideias do Thiago Ambrósio Lage, do Arthur Marchetto e do André Colabelli! Assinem as news deles, já que não paguei pela ajuda hahah
Também mudei de plataforma (a nômade das newsletters, ela), agora estamos no substack, e adotei uma paleta baseada no quadro Auto-retrato, de Tarsila de Amaral, mas isso vai mais para as redes sociais.
Eu estou dando check de trabalhar com as pessoas mais incríveis do mercado literário, e dessa vez estou participando do projeto Guarás: A outra margem, com arte do Monaramis e roteiro do Felipe Castilho (aka melhor escritor e homem mais bonito do mundo). Vou fechar a newsletter com essa arte linda, porque é sempre bom um alívio depois do descarrego que foi esse texto. Apoia lá!
Fique bem, beba água e vote consciente!