Abro o e-mail. O e-mail pessoal, o e-mail de trabalho, os e-mails dos projetos. Poderia ficar horas olhando para os marcadores organizados, a caixa quase vazia. Os poucos assuntos pendentes ainda ali, esperando. Esperando.
A cabeça procurando trabalho pra fazer, exigindo uma pendência para se distrair, qualquer coisa. Mas não conteúdo novo. Não quero música nova, livro novo, filme com novidade.
Abro o twitter, rolo o feed por cinco minutos para me irritar com gente estúpida dentro do reality show, dentro do governo, dentro da minha cabeça. Fecho o twitter.
WandaVision é a única coisa que está me distraindo — porque é curto, porque é em companhia, e porque é sempre bom uma tortura básica, lembrar à força de mais uma coisa que eu deveria pensar mas não vou.
Abro os chats. Sete notificações, nenhuma delas nas conversas recentes. Não tenho ideia do que eu perdi e não vai ser agora que vou resolver isso. Amanhã, talvez. Nunca, quem sabe.
Eu tenho uma mania cretina de me preocupar mais com o outro do que comigo. A terapeuta disse que eu tenho essa mania de controle, arrogância em achar que sei o melhor para o outro — minhas palavras, não dela. E incorrer no erro é tão fácil que eu faço isso até quando acho que estou me cuidando.
Abro um arquivo novo. Deve existir uma palavra em alemão ou em japonês para "quando você tem muita coisa para falar mas não tem o que dizer". Definitivamente não existe em português.
Fecho o documento. Abro o e-mail.