Apesar de querer
Quando eu assistia filmes de apocalipse zumbi ou fim do mundo num geral (oi, Thomas Cruise)…
Quando eu assistia filmes de apocalipse zumbi ou fim do mundo num geral (oi, Thomas Cruise), eu sempre ficava irritada com aquele personagem que estava rindo de coisas idiotas, ou preocupado com situações aparentemente fúteis. Sério, amigo, você acha mesmo que é momento pra ISSO?
Mas depois de tanto tempo em quarentena (estou oficialmente em isolamento social desde o dia 13 de março) acho que consigo compreender um pouco mais.
Eu me sinto cada vez mais impotente com o que está acontecendo. Sei que é muito importante ficar em casa para ajudar a todos, mas não é uma ação que apresenta resultados visíveis, práticos, e os números (e as pessoas) todos os dias só dão a sensação de que também é inútil.
Estou em casa e todo dia é um desafio para manter uma rotina, manter a atenção em algo por mais de cinco minutos. Nada está como antes, e nada será como antes, então eu me prendo a qualquer fio de normalidade para viver um dia de cada vez.
E as vezes isso significa que uma das coisas mais difíceis é não poder tomar uma cerveja no barzinho da esquina uma vez por semana. É acompanhar com ferocidade aquela série, é desejar que aquele show dê certo mais pra frente. É se chatear porque toda a comemoração de aniversário planejada foi por água abaixo.
Para algumas coisas eu nunca fiz planos a longo prazo, e isso funciona pra mim. Mas agora praticamente tudo na minha vida está fora do controle. Porque se eu for dispensada, vou fazer o que? Se meus freelas acabarem, como vou pagar as contas? Se meu pai adoecer, vou ajudar como? Se algum amigo precisar de ajuda, ajudaria em que? Nada está sob meu controle.
A não ser a tesoura que cortou meu cabelo. O joguinho no vídeo game que tem regras claras e me distrai. Os livros na estante que me dão a sensação de lar. Aquela conversa que salva o dia. As palavras escritas que me provam que ainda sou eu, que ainda sou.
Pois é, me tornei o que mais odiava: o personagem que está preocupado com coisas pequenas no meio do fim do mundo. E se essa é a forma de manter minha saúde mental, não me arrependo disso.