Em um momento na minha vida tinha tanta merda acontecendo ao mesmo tempo que sentei no chão do banheiro e chorei de exaustão. Em outro período, a insônia e ansiedade bateram tão forte que não conseguia dormir mais do que 3 horas por noite. Já passei 3 meses inteiros praticamente me alimentando de líquidos por causa da gastrite nervosa.
Uma vez eu estava tão cansada que coloquei a chave errada na porta de casa, não consegui abrir, e simplesmente fiquei sentada na entrada esperando alguém chegar para me ajudar. A chave certa estava na minha bolsa. Também já peguei ônibus errado, quando percebi desci no primeiro ponto e fiquei lá, sentada, tão cansada que não conseguia entender que era só atravessar a rua e pegar o ônibus no sentido contrário.
Não que eu seja o tipo de pessoa que gosta de relembrar coisas ruins, mas gosto de analisar antigos comportamentos para aprender com eles. E em todos esses casos a Lígia de 20, de 25 ou de 30 anos tinha um refúgio. Meu namorado chegando, abrindo a porta e me dando um abraço, meu colega de trabalho me mandando um uber, os amigos de faculdade resolvendo as tretas para eu ficar mais calma, o treino para exaurir o corpo e conseguir dormir…
Eu sempre achei que era muito sozinha, sempre me dei ao luxo de dizer que me obrigavam a ser forte demais, menosprezando a presença segura e acolhedora de todas as pessoas que estiveram ao meu redor. Na pandemia isso mudou, até porque eu mudei bastante nos últimos dois anos, e eu consigo ver melhor como minha felicidade sempre esteve relacionada às pessoas que estão comigo.
Eu estava aprendendo isso aos poucos, mas 2020 decidiu arrancar toda e qualquer máscara com esponja de aço. Então estou relembrando todos esses momentos que me senti sozinha mas não estava, para conseguir olhar ao meu redor e perceber o quanto os que eu amo continuam comigo, mesmo que não seja fisicamente.